Se concretizada, a decisão do governo dos Estados Unidos da América (EUA) de elevar em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros vai atingir em cheio Minas Gerais, com possibilidade de desemprego e produtos encalhados. Terceiro maior estado exportador para o mercado norte-americano, Minas já embarcou mais de US$ 2,4 bilhões em mercadorias para os EUA entre janeiro e junho deste ano. Juntos, 10 municípios mineiros representam mais da metade das exportações do estado para o país liderado por Donald Trump, somando US$ 1,45 bilhão.
Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As cidades mineiras que mais vendem para os Estados Unidos são Guaxupé, Varginha, Sete Lagoas, Araxá, Belo Horizonte, Contagem, Ouro Branco, Alfenas, Ituiutaba e Manhumirim.
A taxação de 50% começa a valer em 1º de agosto e se estende a toda a pauta exportadora brasileira. O anúncio foi feito por meio de comunicado endereçado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e postado em rede social. A medida tem repercussão direta sobre setores estratégicos, como o agronegócio, as commodities e a indústria de transformação .
No caso de Minas Gerais, o impacto é amplificado pelo perfil dos produtos embarcados. O café, um dos principais itens enviados aos Estados Unidos, tem forte presença na pauta mineira. Guaxupé e Varginha, por exemplo, concentram boa parte da comercialização externa do grão, o que reforça a vulnerabilidade das regiões ao novo cenário comercial. De acordo com MDIC, aliás, o estado é o principal estado exportador de café para os EUA.
“O Trump blefa muito. Mas uma simples fala do líder da maior economia do mundo acaba ancorando expectativas da nossa economia, que será afetada. Os mercados ficam agitados. Afinal, todos dependem do mercado externo”, afirma a O Fator o professor de economia da Skema Business School e CEO Leroy Group, Felipe Leroy.
Leroy alerta que o aumento das tarifas pode provocar uma queda nos preços internos dos produtos, especialmente no caso das commodities agrícolas. A expectativa é a de que, sem vazão para o mercado norte-americano, parte da produção seja direcionada ao consumo doméstico, pressionando os valores para baixo. Mas, diferentemente do que pode parecer, a queda no preço é uma má notícia. A redução, afinal, seria reflexo de uma diminuição na margem de lucro e uma “isca” para desovar a produção.
Na ponta do lápis
Leroy destaca que, como a retração na demanda será imediata, as companhias com alto índice de negociação junto aos EUA devem começar a rever os quadros de pessoal e a compra de matéria-prima ainda em julho.
“A tarifa é ancorada no preço. Se eu tenho uma tarifa para um determinado produto, o preço dele será elevado e a tendência é exportar menos. Consequentemente, eu fabrico menos e entrego menos”, explica.